terça-feira, 17 de abril de 2012

Pergunta: a Missa é bíblica?

Enviada por: José
Cidade: Teresina
Estado: Piauí
Data: 14/08/2008 15:26:45

PERGUNTA:

Por qual razão o Evangelho de São João é o menos pregado pela Igreja Católica em suas missas, especialmente no Semanário Catequético "O Domingo"?


RESPOSTA:

"... do amanhecer ao entardecer será oferecida a oblação pura e imaculada..." (Malaquias 1, 10).


Salve Maria!


Comecei essa missiva, colocando o trecho do profeta Malaquias, para que de começo se dissipem logo a idéia de que a Missa é coisa inventada pelo homem.

Você diz que a Igreja Católica prega menos o Evangelho de São João. Talvez a respeito disso que falta a grande maioria do povo católico entender e crer, que a Missa é exatamente o que tanto o Evagelho de São João quis mostrar. Agora eu que pergunto: Por que muitos de outras denominações religiosas tem tanto receio de ler, principalmente o capítulo 6 na íntegra do Evangelho de São João, tendo base o texto original em grego? Sobre isto falarei mais adiante.

Comecemos a análise bíblica pelo capítulo 6 do Evangelho de São João, que podemos dividir em quatro partes:
Na primeira (versículos 1 a 25), Cristo mostra de forma prodigiosa como nos dará o alimento celeste, na figura da multiplicação dos pães, alimento corporal. Os judeus procuram então fazê-lo rei, e Cristo foge.
Note-se que São João faz uma referência curiosa, aparentemente desnecessária, quando Cristo multiplica os pães: "Estava perto a Páscoa, dia da festa dos judeus" (S. João, 6, 4). A preocupação do evangelista aqui é mostrar a relação entre o pão multiplicado, que é dado como alimento a todos, e a Páscoa, na qual se sacrifica o cordeiro sem mancha.

Cristo tudo pode. Pode dar-se em sacrifício, para pagar os pecados na Páscoa, pode dar-se em alimento, multiplicando seu corpo sem dividir-se, como na multiplicação dos pães.

Na segunda parte, (versículos 26 a 47), Cristo busca elevar a mentalidade daquele povo que só via o milagre visível, para um milagre superior, invisível, que lhes seria alimento espiritual;

Cristo exorta então o povo a trabalhar para conseguir este alimento superior, que os judeus entendem novamente no sentido material, como algo que lhes livraria da morte corporal, e procuram saber o que fazer para conseguí-lo, que obra material para conseguir tão elevado prodígio.

Cristo, então, responde ser necessário crer nas Suas palavras. "A obra de Deus é esta que creais n´Aquele que Ele enviou" (S. João, 6, 29); ou seja, para receber o alimento prefigurado materialmente na multiplicação dos pães, é preciso ter fé, acreditar no que diz Cristo!

E Jesus irá explicar então em que consiste este alimento, comparando-se ao maná, o pão que veio do céu: "Eu sou o pão da vida; o que vem a mim não terá jamais fome, e o que crê em mim não terá jamais sede". (S. João, 6, 35); e os judeus novamente murmuram por não compreender a divindade de Cristo, por ignorar que veio do céu, assim como o maná.

Na terceira parte, (versículos 48 a 59), Cristo começa a explicitar a doutrina eucarística, após a preparação anterior, e diz que é necessário que os judeus comam esse novo pão, assim como os seus pais comeram o maná no deserto. (S. João, 6, 48-50); Não só Cristo usa a palavra comer, como compara-se a um alimento real, o maná, que era de fato comido pelos judeus no êxodo.

E que pão é esse que deveriam comer os judeus, pois Cristo é homem, feito de carne? "Eu sou o pão que desci do céu. Se qualquer comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei é minha carne, para ser a vida do mundo." (S. João, 6, 51-52); ora, Cristo diz literalmente que o pão é a sua carne!
E novamente Nosso Senhor irá salientar a íntima relação entre o Calvário e a Eucaristia, ao dizer que o pão é para dar vida aos homens, vida que será conseguida por seus méritos na cruz, pão que será dado na última ceia: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós" (S. João, 6, 54), e ainda "O que come deste pão viverá eternamente" (S. João, 6, 59); esta mesma relação será feita na Santa Ceia relatada pelos demais evangelistas.

Como não podia deixar de ocorrer, os judeus, que haviam buscado Cristo pelo alimento material, começam a se escandalizar: "Disputavam entre si os judeus dizendo: Como pode Este nos dar a comer a sua carne?" (S. João, 6, 53), o que mostra que Cristo falava claramente, pois ninguém entendeu em sentido figurado.

Ora, o normal seria Cristo explicar, sendo Mestre como era, caso os judeus tivessem entendido mal. Assim fez Jesus com Nicodemos, que não entendera o sentido do nascer de novo do batismo (S. João, III, 5-8); Nicodemos pensa que teríamos que voltar ao seio materno, Cristo lhe explica o batismo;

Assim também Cristo corrige os Apóstolos, que pensavam materialmente, quando Cristo os mandava guardar do fermento dos fariseus e saduceus. (S. Mateus, 16, 5-12); os Apóstolos disseram que não haviam trazido pão, Cristo explica que o fermento é a doutrina dos fariseus e saduceus;

Também no caso de Lázaro, que morrera, mas Cristo disse que dormia. Os Apóstolos então não compreenderam porque Cristo tinha de despertá-lo, e o Mestre então fala abertamente que seu amigo estava morto. (S. João, 11, 13-14);
Era, pois evidente que se o povo e os discípulos tinham entendido mal o que Cristo ensinara, Ele, como bom Mestre, os esclareceria.

No entanto, diante da interpretação literal do povo assombrado por verdade tão impressionante, Cristo irá insistir no que disse seis vezes, nos versículos seguintes!
Assim, diante dos judeus atônitos diante de tal revelação, Cristo não os corrige, mas reafirma, conforme já citamos: "Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós." (S. João, 6, 54); não só é possível, mas é obrigatório! Não os corrige, mas aprofunda o que dissera.

José, agora sobre o grego.

Nos versículos seguintes, ainda com mais ênfase, pois se até agora Cristo usara o correspondente ao verbo grego PHAGEIN para significar o "comer", de agora em diante usará o correspondente ao verbo TRÓGO, para que não houvesse dúvida que falava literalmente, e não em figuras. TRÓGO quer dizer comer, mastigar, quebrar com os dentes os alimentos mais duros, tragar, devorar: "O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." (S. João, 6, 55).

E ainda, logo adiante...: "Porque a minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida." (S. João, 6, 56);
E mais, para não deixar dúvida sobre esta verdade, em que Cristo promete o seu corpo e seu sangue sob as espécies de pão e vinho: "O que come a minha carne e bebe o meu sangue, esse fica em mim e eu nele." (S. João, 6, 57); e além de afirmar a interpretação literal que surpreendera os judeus, Cristo vai explicando os efeitos do alimento que nos dará, que irá produzir a união mais profunda com Ele.

E ainda, para que ninguém tivesse dúvida: "Assim como o Pai que é vivo me enviou e eu vivo pelo Pai, assim o que me come a mim, esse mesmo também viverá por mim." (S. João, 6, 58), mostrando como esse alimento espiritual é fonte de vida.

Também no versículo seguinte, lemos: "Aqui está o pão que desceu do céu. Não como os vossos pais que comeram o maná e morreram. O que come deste pão viverá eternamente." (S. João, 6, 59).
E de novo a afirmação de que se deve, de fato, comer o pão, pois Cristo compara-se diretamente com o maná, que veio do céu, e que era comido pelos judeus.
Na quarta parte, (versículos 60 a 72), vemos a reação dos discípulos de Jesus, que novamente confirmam a clareza do discurso de Cristo: "Muitos, pois, de seus discípulos, ouvindo isso, disseram: Duro é este discurso, e quem o pode ouvir?" (S. João, 6, 61);

Cristo falou sobre comer sua carne e beber seu sangue de forma literal.
Os judeus perguntaram de que forma poderia se dar aquilo.
Cristo insiste na realidade deste ato, seguidas vezes.
Vários discípulos então rejeitaram seu discurso, pois entenderam perfeitamente o que Cristo dissera, e acharam esta verdade muito dura.

A falha dos discípulos é querer entender que o comer a carne e beber o sangue se dariam, estes sim, literalmente, e não sob as espécies de pão e vinho da eucaristia.

Cristo então ensina que devemos comer sua carne e seu sangue, vivo substancialmente na Eucaristia.

Então, Cristo se dá por alimento espiritual através das espécies de pão e vinho literalmente na Missa, que após a consagração do sacerdote passam a ser corpo e sangue de Cristo verdadeiramente. Isso mesmo, não tem nada de simbolismo, o corpo e sangue de Cristo presentes no altar da Igreja Católica é o mesmo Jesus imolado na Cruz, perpetuando a cada dia seu único sacrifício. Por isso nós adoramos Cristo presente na hóstia consagrada.

Teria ainda quem insistisse que a Missa é um ritual de memória e simbólica. Para isto recorremos a São Paulo na carta aos coríntios, onde ele está exatamente critica os coríntios por transformarem a Missa em ceia.

 Portanto todo aquele que comer este pão ou beber este vinho indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.
    Examine-se, pois, a si mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o corpo do Senhor."
 (1 Cor. 11:25-29).

São Paulo diz que será réu do CORPO e do SANGUE, aquele que não distingue o PÃO e o VINHO do CORPO DO SENHOR. Como alguém poderia ser réu do CORPO e do SANGUE, se a Missa fosse simplesmente celebração da memória? Como poderia comer e beber a própria condenação quem, vendo PÃO e VINHO, e comendo PÃO e VINHO, não distinguisse o CORPO DO SENHOR? Como poderia alguém distinguir o CORPO do PÃO, se vê apenas PÃO?

Só se pode ser réu do corpo e sangue de Cristo na Missa, se houver de fato, corpo e sangue. Então o que temos após a transubstanciação acontecida pelas mãos do sacerdote, todos os dias, em todos lugares do mundo? Corpo e Sangue de Cristo.

Por isso coloquei a passagem do profeta Malaquias que de fato se cumpre no Evangelho de São João, vejamos o versículo 11 completo:

Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem ao meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o meu nome entre as nações - diz o Senhor dos exércitos.


Absolutamente essa oblação é Cristo, Jesus.

Ficam mais duas perguntas básicas:

Como explicar uma oferenda de Oblação pura que se dará em todo lugar, do nascente ao poente, ou seja, todos os dias, se o sacrifício de Cristo que aconteceu no Calvário foi em um só lugar, na Gólgota, e em uma só hora?

Em que ritual grave e solene é oferecida uma oblação (sacrifício) pura e imaculada, todos os dias, nos dias de hoje?

Sim, é a Missa.

A Missa é o mistério do sacrifício de Jesus. Onde ele se apresenta vivo substancialmente na Eucaristia.

Então dizer que a Igreja não prega o Evangelho de São João na Missa é uma inverdade. Pois que na Missa temos o pão vivo que desceu do céu, e que podemos comer, com a boca, com os dentes. A Eucaristia.

O Evangelho de São João está para a Missa, assim como a Missa está para o Evangelho de São João.

Agradeço, e espero que sua dúvida tenha sido esclarecida, e rogando para que, por intercessão de São João Evangelista, possa brotar em sua mente o entendimento do único e verdadeiro sacrifício de Cristo, acontecido na cruz, e perpetuado na Missa.

Jesu, Redemptionis Sacramentum.

Weslen Viana